Viagens por aí a dentro

sábado, agosto 06, 2005

Braga - Barcelos

Barcelos não tem nada de mais que possa ficar por ser visto. Talvez para quem seja um fã incontestável dos “recuerdos”, um galo de Barcelos, em versão mini-porta-chaves, ou para os mais emperdenidos, versão maxi-porcelana, venha mesmo a calhar.

Aqui, assim como nestas zonas límitrofes respira-se o fumeiro. O cheiro inconfundivel do enchido pendurado a fumar, penetra e entranha-se na alma, roupa, e narinas.

Há coisas que me tocaram e chamaram. Chamamentos bonitos como o belo enquadramento da Ponte sobre o Cávado e o rio em si que até lhe dá vontade de tocar.

Toquei na beira do Cávado... mesmo à beirinha perto da ponte, junto a uma azenha em recuperação. Ele nada me disse. Apenas frio, e se calhar incomodado com o esgoto (pelo cheiro e cor, de certeza não tratado) que desemboca na margem contrária em Barcelinhos. Ou isso, ou ficou incomodado com as 2 pedras que com o intuito de ricochetearem, logo se afundaram. Palerma do Rio! Talvez por se ter habituado a que ninguém o socorra quando lhe é devido, também a nós não responde. Cá se fazem cá se pagam!

Outros chamamentos, embora menos líquidos e mais ecléticos encontram-se no Museu de Olaria de Barcelos. Sempre com exposições variadas, temporárias e fixas, a “pagantes” e a não pagantes – sempre nos podemos aproveitar do estatuto e dar uso do empoeirado cartão de estudante, que só sai cá para fora em questões de identificação e descontos secundários e pagar uma quantia irrisória – surpreende quem visita e pensa que o barro apenas pode ser castanho e servir apenas para “recuerdos” mais ou menos foleiros.

Talvez o que me tenha mais apegado e chamado a atenção tenha sido o mercado que se realiza quase religiosamente todas as quintas-feiras e que ocupa toda a praça Central. É uma excelente oportunidade de sentir o pulsar do Minho e das suas pessoas. Ver e sentir os velhos, os novos, os seus falares – carregados amíude de palavrões capazes de fazer corar um Mouro, mas que não tirados dos seus contextos não chocam ninguém – e o suburbanismo nada stressado que inveja traz-nos a suburbanos da Capital.

De volta ás viagens, tempo de voltar à base estabelecida na Capital de Distrito.

Há rapazes que ajudam motoristas de autocarros. Quiçá um começar de vida onde nada mais há para além do que um livro pode valer.

Há a neblina a pairar nos vales, fazendo lembrar a nata que soubeja do leite, mal caiem os primeiros frios da noite. O Sol já nada quer com isto. Só a Lua ténue me acompanha, a mim e nós todos que voltados para Braga apinhados num autocarro nesta hora de ponta Minhota. Nos campanários das igrejas dos lugarejos brilham umas verdes cruzes. As casas aninham-se penduradas nos inúmeros montes que populam a região. Umas penduradas, outras nem tanto.. soltam uma névoa que se estaca após subir brownianamente uns poucos de metros. Se são de uma lareira estas névoas, que inunda uma qualquer sala de família, ou se por outro provém de um fumeiro, ao certo eu não sei. Sei é que contribuem para as grandes névoas que se formam nos vales, como numa casa de vício de jogadores inveterados.

A vida vai tão pacata mesmo ás portas da Urbe que até dá direito a empatar um pouco o trânsito na estrada nacional, à conversa com um amigo motorista, quem sabe se a por em dia o resultado do jogo de ontem do clube do coração.

A diferença da génese das grandes e das pretensas grandes cidades vê-se num facto que todos consideramos impessoal: a frieza das pesssoas. Aqui cada um conhece o outro no autocarro, na loja, onde quer que seja, seja numa Braga, numa Barcelos, e quiçá numa Guimarães...

Após uns estafantes 55 ou 60 minutos de viagem, espera-me de volta o pulsar citadino à séria, que aqui aparece e re-aparece vindo do nada...

O Sameiro à noite é fabuloso, não pela sua beleza arquitectónica, que a tem, nem pela sua imponência cimeira, mas pela vista magnifica que se tem do vale de Braga e das populações circundantes. É de suster a respiração e de parar o bater do coração com a majestade das luzes, pelo frio cortante e pelo silêncio que ajuda à meditação.. desde que não seja entrecortada por tilintar metálico.

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