Viagens por aí a dentro

sábado, dezembro 02, 2006

Palmela

Mais outra viagem na senda das viagens de um dia a descobrir sitios em Portugal que valem a pena.
Depois de descobrir Tomar, Caldas da Rainha e Torres Vedras e re-descobrir Sintra, desta vez uma pequena viagem documentada, a Palmela.

Esta vila avista-se em dias bons, nos quais a bruma o permite, de um qualquer sítio de Lisboa desde que tenha vista para o Sul. Lá no alto da sua encosta, principalmente à noite, brilham umas luzes amarelas que demarcam a colina do Castelo. Com uma grande influência Moura, este castelo encontra-se muito bem remodelado e aproveitado, com varias salas com nucleos de arqueologia "in loco" com as explicações todas no sítio certo. A vista quer para Lisboa, lá ao longe, quer para Setubal já ali à mão de semear, ajudam a perceber porque razão foi ali plantada a estrutura.
Lisboa está tão longe, tão perto que até parece mentira como não se ouve o burburinho caracteristico da Capital. Ali só mesmo o vento a soprar bem forte. Do outro lado Setubal, piscatória e estaleiros. E Troia também ali tão perto a espraiar-se rumo aos Algarves.
Palmela é também serra da Arrábida com todo o seu pastoreio, queijos e travesseiros (de Azeitão é claro!). Mas também é diversão, ou não ficasse por perto também o Kartodromo Internacional de Palmela.

Como uma imagem vale mil palavras, então o que valerá um video? Milhares de milhões delas? E um som? Quanto vale?

Em vez de tanto paleio aqui fica um pequeno vídeo sobre essa viagem de um dia a Palmela e arredores.



Até á proxima viagem!

quarta-feira, maio 10, 2006

Uma viagem até às 2 principais cidades da Beira Interior.

[updated]

Vontade de escapar, letra F repetida até aos dedos da mão e um revisor da CP apaixonado por parapente... o que é que isto tudo tem em comum?

Finalmente e depois de vários meses de espera, o vídeo da viagem disponível via youtube!




Castelo Branco fica quase a 3 horas de Lisboa de comboio, viagem que aconselho vivamente por ser mui bela especialmente desde o Entroncamento até (Vila Velha de) Rodão, local onde o Tejo deixa de nos fazer companhia, presenteando-nos até lá com belas construções humanas começando pela própria linha de caminho-de-ferro que, aqui e ali, parece pairar sobre a água tendo o dom de transformar a nossa carruagem num veículo anfíbio.

De grande interesse encontram-se o castelo de Almourol, plantado no rio e ainda as barragens de Belver e do Fratel imponentes represas da força das águas. Nota importante para Constância e Abrantes onde se notam 2 pontes metálicas que o comboio atravessa num ápice. A partir das portas do Rodão, um entalhe em forma de V que o rio atravessa na pressa de chegar á foz, o percurso inclina para o interior até chegarmos à cidade de Castelo Branco.
Castelo Branco que diz o povo ter 3 estações; a saber: Inverno, Verão e Caminho-de-Ferro. É só aperceber-mo-nos do estado do clima por estas paragens para ver que não há meio-termo no que a isso toca.
Segundo os guias, aos quais é aposta a minha opinião pessoal (sujeita a devaneios não íncluídos) o belo de Castelo Branco é perder-se pelos amontoados de casas que enfeitam a colina (Monte da Cardosa) onde mesmo que reine um calor abrasador, pode-se encontrar um fresquinho e um cheiro doce que emerge de dentro do casario.
Ao subir ao Castelo, ou ao que dele resta, pode-se ter uma panorâmica avassaladora da Serra (da Gardunha e Estrela) a Norte e a Este. Para Sul e Oeste o melhor é dar corda aos sapatos e visitar o jardim/pinhal ainda dentro das ruínas das muralhas.

Vivam as farinheiras e as morcelas mouras!
Para quem gosta de enchidos ou queijos, nada como dar uma saltada ao mercado municipal e aproveitar o contacto com os próprios produtores desses mesmos produtos para aquiri-los directamente da origem. Já que se está no Mercado devem-se dar umas voltinhas pelo centro, que à data de 2006 se encontra completamente de cara lavada, relativamente aos meus tempos de meninice passada numa aldeia perto. Também bastante aconselháveis são o Jardim do Paço Episcopal (com imensos jogos de água) e o respectivo museu como ainda o Parque da Cidade.
Em Castelo Branco para quem tem pernas tudo é perto!


“Ay muito me tarda/ o meu Amigo da Guarda”
cantiga de amigo de D. Sancho I

A vontade de ir à Guarda vem de longe, desde que vi uma reportagem que retratava que a linha que ligava Covilhã à Guarda estava em bastante mau estado, tomando o percurso de 40 quilometros cerca de 1 hora e meia a fazer. O que fui ouvir... uma linha de comboio que passa ao lado da Serra da Estrela tem tal encanto que teria que a “fazer” nem que fosse a 10 quilometros/hora. Mas o esforço de apanhar um comboio ás 6.43 da manhã que começou ás 2 da manhã no Entroncamento, com maquinista e revisor bem cansados e pouco dormidos tem algo de aventura!

Mas já lá vamos....
Depois de uma noite não lá muito bem dormida, na excitação de andar nessa linha que cheirava a desconhecido, lá fui, pensando que na pior das hipóteses ainda me calhava a Covilhã, mal menor mas ao menos era mais linha desconhecida que deixaria de o ser.
À hora da tomada da automotora encontrei uma simpática senhora já com vida e passagem feita pelos Algarves e originária da Covilhã, que esbarrou, como eu, com uma bilheteira fechada. Restou dirigirmo-nos para o cais oposto onde estava parada uma automotora Allan renovada em 2003, à nossa espera já com o motor a diesel fumegando e tarimbando, muito provavelmente como vinha fazendo há 40 anos antes da remodelação.
Conversa puxa conversa, e os destinos definiram-se; eu já ia com ela fisgada na Guarda, e a minha amiga de assento ficava por Donas, um pouco antes do Fundão. Donas esta, terra do ilustre António Guterres e segundo o que ela me afiançou também de José Hermano Saraiva.
O assunto resvala para o preço do bilhete. Eu sendo um jovem pago apenas 5.50€ por uma viagem mais longa do que a apenas o trajecto até Donas pela qual a minha amiga paga 4.50€. “Mais um pouco e os preços eram iguais” queixava-se ela ao revisor zeloso da sua função de máquina registadora em punho.
Na passagem pela Gardunha intromete-se o túnel ferroviário de Alpedrinha que fura sem piedade uma grande extensão da Serra sem antes nos deixar de deslumbrar com passagens por Castelo Novo paragens estas (dignas de comboio regional) que permitem admirar com mais intensidade a planície que ora seca ora verdejante se desenrola aos nossos pés a Sul em direcção á nossa Origem.
Passado o túnel, entramos na Cova da Beira, famosa pela cereja e pela flôr da mesma que, dizem os locais, compete de igual para igual com espectáculo da amendoeira em flôr das Terras dos Algarves. Seguem-se pequenas paragens até chegar ao Fundão, meio caminho até a Guarda, já com a Covilhã a adivinhar-se ao fundo e com a imagem meio desfalecida das Torres da Serra da Estrela. Foi aqui tempo de paragem para uma curta espera pelo comboio que descia da Covilhã para a Capital.
De novo prego a fundo, o ronronar de tractor da nossa automotora e marcha até à Covilhã onde sai a massa humana que tinha entrado pelo caminho, para se dedicarem a um ou outro afazer ou compra na cidade espetada na colina, a porta de entrada no céu da Estrela.

Pouca-terra, pouca-terra... muito pouco pouca-terra
Uma breve conversa – enquanto não secavam uns degraus lavados à mangueira e não retornava a outra irmã desta automotora da Guarda – com o revisor deu para ele ver a minha maluqeuira pelos “pouca-terra” assim como para desvendar a faceta “radical” deste funcionário da CP versado em parapente e BTT não só em nacional terreno como também em terras Helvéticas. Um hobbie, diz ele, que nem é caro salvo o investimento inicial. Prefiro manter os pés nos carris e seguir viagem para a terra dos 5 éfes. O deslumbramento é total à saída da Covilhã, onde se passam por 2 pontes de impor respeito, uma sobre o ribeiro que atravessava o antigo complexo de lanificios que é (e foi) a cidade, agora já limpa da poluição reinante, e a segunda passagem pelo rio Zêzere que aqui não é nada mais do que um chão com nem sequer um palmo de água. Até à Fria, Formosa, Farta, forte e Fiel cidade da Guarda são uns penosos 40 quilómetros a velocidades de lentas a vagarosas para o stresse ocidental.
São no entanto mais que suficientes para os apaixonados da vista, pois pode-se passar por precípicios galgados por pontes mais que centenárias (restringidas por isso à morosa velocidade de 20 ou até 10 km/h) ou admirar de longe a beleza da vila(?) de Belmonte conhecido refúgio judeu em Portugal e terra de Pedro Alvares Cabral (?), ostentadora de um singelo Castelo. Mesmo devagar temos a sorte de apreciar sem sair do lugar a beleza da Serra contornada pelo lado de fora mais chegado à fronteira, bebendo as imagens dadas pelo vale que se forma entre a colina que o comboio galga e a outra sobranceira onde passa a auto-estrada de mais recente construção.

Os 5 F’s
Chegado á Guarda e feitas as despedidas ao maquinista e ao revisor, merecedores de um revigorante descanso, estava nas minhas mãos – ou melhor pés – trepar até à Guarda. A cidade propriamente dita dista 3 quilómetros de Guarda-Gare, no sopé da cidade. Não façam como eu (a pé) e sejam gentis ao usar o táxi ou a Carreira da RBI, para não serem apelidados de atletas/malucos (riscar o que não interessa) quando vos for perguntado no posto de Tursimo de que maneira se deslocaram até lá.
Da Guarda o que há de bonito é a Sé e o seu “cú” virado para espanha; o Castelo da qual resta apenas a torre de Menagem a 1056 metros de altura com uma envolvente de tirar a respiração; o envolver das ruas estreitinhas da Judiaria e taberna do Benfica colocada perto da porta da Erva uma das 3 que ainda restam dos tempos de D. Sancho I. D. Sancho, esse, que muito supirava pela Ribeirinha a filha de um fidalgo da região. Conta-se que o nosso Rei a andava a com...cortejar. A Taberna do Benfica dirigida por um casal bem acolhedor de velhotes, é o sitio ideal para desfiar e aprofundar as nossas conversas.



Depois de um passeio demorado, quer á deriva quer guiado – pelo posto de turismo na Praça Velha junto à Sé – pelas ruas, palácios, museus e jardins, aconselho a ida até ao Parque Municipal, bafejado pelos melhores ares citadinos do País, onde se pode descontrair ou queimar as gordurinhas ganhas com os enchidos e queijos, no circuito de manutenção. Para quem eventualmente queira ficar demorado pelas paragens da serra, o IPJ e a sua Pousada é sempre uma excelente opção, com uma bela vista, e, com sorte e o tempo de frio, um manto branco de neve que se estende até onde os olhos alcançam.

Até à próxima viagem!

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Dia 5 - Sábado 14-01-2006

Como era de prever não dormi lá grande coisa. Sempre a acordar a meio do pouco sono para verificar as horas para ter a certeza que não perderia o voo e se não ficava ainda mais tempo ali.
O voo tinha espera marcada na porta ás 8.50, mas nunca fiando nisto de apanhar aviões. Mais vale estar prevenido que ser apanhado descalço.
A alvorada (se é que alguma vez existiu) foi por volta das 5.20, a jeito de tomar o pequeno-almoço à hora que o bar abria. A coisa boa de ter assim estas dormidas e pequenos-almoços à borla, é poder usufruir de tudo e mais alguma coisa sem preocupações. O exemplo disso são os pequenos almoços abastados e bem fornecidos que permitem não só ter energia para o dia todo como também dar protecção contra o frio intenso que reina lá fora.
Depois do pequeno almoço, o dia ainda nem sequer tinha despontado. Nem um único raio de sol tinha ainda lambido os meus olhos. A espera, ainda dentro do hotal por causa do frio, pelo autocarro fez-se ouvindo uma mescla de inglês e alemão. Dão muito que pensar pos hoteis deste estili, apenas meros locais de passagem fugaz, casa de toda a gente e ao mesmo tempo casa de ninguém. Camas de one nigth stand, salas de reunião de 30 minutos one shot, para empresários atarefados.
O autocarro lá veios, felizmente também com aquecimento, que é eficaz apenas de portas fechadas. Ainda um pouco mais de espera por um hospede mais atrasado que não queria estar mais meia hora à seca pela próxima passdem do mesmo. Da viagem nem sequer um ponto de referência, de tão escuro que estava. Só sei que o hotel era no meio de nenhures, algures na “Cargo city Sud” a uns bons 2 quilometros do aeroporto, terra de ninguém, onde se faz tudo e mais alguma coisa relacionado com os aviões.

Impaciência e quase desespero até ao ultimo minutos. Diz o ditado que à 3ª é que é de vez, e eu não queria de modo algum ter mais nehum percalço na 3ª viagem de avião que era para ter idealmente começado e acabado há algumas horas atrás. De novo no aeroporto, agora já á espera de alguma luz natural que alumiasse o caminho à pátria de origem, a espera não foi muita, mas como qualquer outra espera, impaciente, chata. Não havia meio de atribuirem uma gate (porta) de embarque para o nosso voo. Era ver os outros voos que partiam depois, os gulosos, a verem as gates serem-lhes dadas e a nós, para Lisboa, a capital do país, a ver-se relegada para último. Até na beira da loucrua, um voo para o Porto, vejam-se lá, teve gate primeiro que nós. A situação lá se resolveu e mal a indicação apareceu nos ecrãs, eu levantei-me d eum pulo, e como uma mola dirigi-me ao sítio onde de fio a pavio passam-nos ou não o atestado de terrorista, assassino, contrabandista ou de mero louco. Tudo isto baseado nas armas de uso pessoal e amterial proibido que um índividuo possa levar.
A caminhada para a gate A40 de Frankfurt adivinhava-se grande, mais ou menos ao ritmo de cada gate ( nesta piso apenas as pares) a cada 50 ou 100 metros. Depois de palminhar as primeiras 20 e de ter visto bastante material aeronautico de diferente proveniência, lá demos com a gate certa, e com um fantástico sol de Inverno, pelas nove horas locais. Um sol que espreitava timido por entre a névoa da manhã fria lá de fora. Do embarque nada mais, só um ocnjunto de 4 dezena de pessoas se tantas, com um civismo irreprensivel de uma espera por um avião sempre longa. E eu com o bichinho de voltar. Antes de levantar vsó o mero reparo, de, no momento exactamente antes do ínicio da aceleração final para levantar, uma ave a pousar no verde carcomido da relva ao lado da pista. No meio daquele barulho todo, o bicho pousou como se nada fosse e ainda petiscava algo na terra. Se ele se enfiasse algures nos motores (ali tão perto, pertinho) seria o nosso fim certo.

A viagem foi para mim a mais calma da 3. Sem turbul~encias desmeddas, sem choros demasiados sem abruptas partidas. E para mim apenas pareceu que o piloto deslocou a machete 3 vezes se tanto. Para virar á direita nos Alpes, para corrigir a trajectória por cima dos Pirineus e depois á chegada nas manobras do costume; tudo o resto imperceptivel. Viagem de resto bem acompanhada por música que acertou na mouche. Os Air com o seu ultimo album, proporcionaram-me uma viagem calma nas nuvens, essas que não faltaram quase até casa. Começaram a aparecer mais densamente aquando do novo avistamento dos Pirineus ainda com os Alpes pela esquerda. Incrivel como lá do alto se pode perscrutar a largura imensa da França como se nada fosse.
Nos auscultadores ia passando “Surfing on a Rocket” bem chamado ao caso pelo shuflle do leitor, ou não estivessemos graças a 2 bem grandes, sustentados a pairar nos sucessivos colchões de ar da Europa.
Com copo de água atrás de copo de água, pedidos gentilmente à hospedeira com um “plain water”,- não fosse servido gato por lebre e trazida antes água com bolhinhas grande apanágio dos germânicos - a vontade de ir à casa de banho apertou. E foi mais um momento para experenciar o pitoresco dos aviões. Ver oque quer que seja que tenha sido depositado na sanita ser aspirado com uma velocidade acelerada e barulheira proporcional, dá vontade de imaginar o que aconteceria se o mecanismo fosse accionado quando estivéssemos lá sentados. Já alguém ouviu falar em sucção?
Quase a chegar ao solo, e ouvindo rão Kyao naquelas músicas mais tradicionais com influências de música mais folclórica, fiunalmente acaba o manto espesso de nuvens baixas e altas que no acompanhavam desde os Pirineus ( que aliás foram palco de um cruzamento perpendicular entre o nosso avião e outro num corredor metros mais abaixo) vislumbrei algo que me era familiar: Abrantes e Santarém, a primeira pela estação de produção de electricidade e a segunda pela grande proximidade com o rio Tejo. De avião lá no cimo a vista em profundidade é enorme e apenas com mais 1 ou 2 minutos de voo já se vê logo Vila Franca de Xira, Lisboa e o seu grande Estuário que abraça a cidade.
Ainda curiosamente deu para ver a casa lá do cimo ( eu sei... coisa de criança ou de parolo) assim como o local de trabalho e a antiga faculdade.
Do momento mais excitante fica sempre a aterragem, com o retumbante bater das rodas no chão e o potente reverter dos motores, que trouxeram então de volta a casa.

Fica assim completo este breve relato de 4+1 dias num outro contexto para além daquele em que eu tenho movido em toda esta existência.

Até ás próximas viagens!

Dia 4 - Sexta-feira 13-01-2006

Merda, merda, merda... Pensar que neste dia já estaria descansadinho (talvez) em casa foi tomar o ovo no cu da galinha.
Depois de um dia relativamente calmo, com o trabalho arranjado e despachado, e com as coisas todas feitas com calma, tinha que haver um ponto de falaha. Não acredito nas 6ªas feiras 13, como ponto máximo de azar e desastre, mas a verdade é que vos escrevo de um hotel perto do Aeroporto, algures em... Frankfurt.
Já tinha sido mau a porcaria do voo de volta ter sido separado em dois. Mais valia terem-nos enviado no fim-de-semana direitinhos a Lisboa, sem mais nada. Mas não, com voo de ligação com menos de meia-hora de intervalo, tinha que acontecer merda. O sistema de boarding chek não tinha a certeza se havia ou nao 1 passageiro no avião e depois desse inusitado atraso, ainda veio um nevoeiro que se levantou que fez com que a partida do voo se atrasasse.
Resultado:
• Comigo cansado e completamente sem vontade de aturar algo, o voo para frankfut de Munique foi super rápido ( a piloto alemã pôs o pé no acelerador),e no meio de uma choradeira esterofonica de bebés que mais parecia em 5.1, mas não tão rápido que permitisse apanhar o voo para Lisboa a horas.
• Pelo meio disto tudo, descobri, que devo ter um problema fisico qualquer que não me permite desfrutar da viagem sem sentir todo e qualquer abanão ou viragem de um modo ampliado
• O aeroporto de frankfurt é grande para caramba! Acho que deve ser o aior da Europa! Sei que demorei um bom ¼ de hora a tentar percorrer o caminho que me levaria para a porta de embarque correcta, que parecia estar a 2 quilometros de distancia. É abismal o tamanho das infraestrutura s que suportam todos estes gigantes monstros de metal. Perto deste aeroporto, o de Lisboa é uma menina!
• Tenho recuerdos para quase todos
• Andar de avião é muito stressante para mim. Se for possivel so voos directos!
• Comi à borla, tenho uma noite de borla num hotal pago pela companhia
• Posso respirar ar de Frankfurt mas não ver a cidade
• Vou viajar de aviao apenas de manhã
• Não devo ir fazer o Radiologia
• Não tenho rede em roaming para ligar para portugal
• Estou demasiado mole para ir arrastar-me ao frio para ir encontrar uma cabine

Nada mau para quem nunca saiu do pais natal e que so voou uma vez.
Mas isto até está a ser bonito.. de uma maneira tortuosa digna de filmes cómicos onde um tipo cansado é batido até á exaustão.

Hmm ... e voces sabiam que no Aeroporto de Munque existem moscas para fazer pontaria nos urinois em vez dos tradicionais discos de naftalina?

Vou tentar descansar para:
• Tentar acordar escandalosamente cedo a um sabado
• Tentar apanhar o shuttle para o aeroporto para chegar a gate certa do voo
• Sobreviver a um novo voo
• Chegar a Portugal e suportar a expectativa exagerda do meu pai

Daqui é o Amadeu (parcialmente desnatado e ultrapasteurizado) a desligar-se.

terça-feira, janeiro 17, 2006

Munique - Dia 3 - Quinta-feira 12/01/2006

Hoje acordei mais cedo mas também com um sono mais dormido. Parecia que conseguia ouvir tudo muito bem... Pudera, tinha deixado a janela aberta durante a noite! Ao menos o calor da outra noite não fiquei! Ainda não consegui ter aquela sensação de estar mesmo numa realidade diferente, noutro país, aínda no mesmo continente mas com um contexto diferentes. Sim, ainda não me apercebi disso, mesmo com as mensagens em alemão à volta. Talvez seja verdade que só na hora da despedida do sítio é que se comece a sentir a “real thing”, como o meu colega me disse. Ou talvez tenha que parar de beber cerveja ao jantar. Já lá foram 3 copos de meio litro desde o 1º dia. Nao é nada demais, eu sei, longe disso. Aquela mini-resolução de tentar parar com o alcóol em Janeiro já se foi! E depois do pecado da bebida...o da carne... mas não o da humana, não o da lúxuria, mas sim o da comida. Nesta zona da Alemnha o sabor do peixe não deve ser muito sentido. Pelo menos o do peixe fresco, já que o congelado e o fumado devem à partida, estas sempre disponíveis. Talvez porque eles não têem uma grande porção de àgua por perto (exceptuando os lagos e o rio Isar) que permita abastecer a população de peixe fresco.

Falar da Alemnha, trás à memória salsicha (não no sentido malandro/ Quim barreirresco da coisa) . O pequeno almoço foi bem pesado. Ainda deu para ovos mexidos, bacon e salsichas de Berlin, para encher o bucho.

Do trabalho nada (de)mais para além de ter apanhado uma ligeira seca á espera das pessoas certas. De resto muita informação nova a entrar na cabeça, mas a cabeça lá longe no horizonte, a querer correr dali para fora e pisar o gelo que se estende nos campos. A querer ser como os milhentos corvos que esvoaçam lá fora enquanto debitavam o seu obituário “crá, crá, crá” ininterruptamente.

Ao almoço mais salsicha para variar. Desta vez num estilo de sopa de legumes. Eles querem provocar-me um ataque cardíaco, estou certo disso!!! A cozinha da baviera é eximía nisso. Um pedaço de comida e muito molho para afogar as mágoas de porco ou da vaca que foram processados naquela forma.

De trabalho, mais só amanha para umas correções finais e espero que mais rabecadas de como as coisas não estão a ser feitas.

De volta ao centro, surgiu na conversa um colega que nos convidou para conhecer as vistas a noite. Está a trabalhar agora aqui, a ganhar o quintuplo do que ganhava em Portugal. Parece que a balança só pesa para um lado não é? Há decisões que parecem que podem ser feitas no escuro não há?

Para variar o tipo é meio destravado e esqueceu-se de nós em plena Marienplatz. Felizmente não me custou porque tinha passado pela hauptBanhof – a estação central de Munique. Ver e rever suburbanos e comboios rápido intercalados com um olá para casa patrocionado pela T-Telekom. Os velhos lá vão vivendo a vida deles fiquei a saber no fim da chamada.

Lá fomos ter com o destravado a OstBanhof que é como que diz estação do Oriente (a sério!).

Afinal ele tinha-se MESMO esquecido de nós, não fossemos telefonar-lhe. Lá nos levou a um bar-restaurante chamado Bar-Lisboa com comida supostamente portuguesa. Há outro similar no Chiado na rua da trindade. Lá conhecemos um casal amigo dele. Ambos ingleses. Ela muito irónica e sempre a revirar os olhos a qualquer coisa que menos lhe agradasse; ele sempre na sua a rir-se das coisas que graça tinham, mas muito reservado no geral. Fiquei a saber que eu tinha um sotaque inglês posh pelo que ela achou. Nem tenho sangue real, nem grande pretensões de mostrar que sou melhor que os outros... mas será que este comentário é para ser levado como coisa boa? Ou será que é para se levado em conta alguma?

Conversa puxa conversa e palavras atrás. Falou-se de tudo e mais um par de botas. Do tempo, das séries inglesas, do facto da língua portuguesa soar a algo como “môsh môsh” para ela, geografia de Portugal e sítio na Europa para passar tempo de qualidade. O casal ao que aparentava era bem viajado na plenitude dos seus 30 e picos anos.

Um quarto para a meia-noite. E eu com medo da falta de transportes. E de ser roubado, assaltado e o diabo a sete. Numa cidade com a língua nada familiar a meio da noite. O destravado que me assegura que na cidade mais patrulhada da Alemanha, não havia malucos dos cornos que se metam aqui com o lusitano com cara de imberbe.

Mas não é preciso ter medo. Mesmo às 00.30 numa estação de metro sem ninguém para além de mim e do meu colega. Como eu stresso com isso, a paranóia da puta da insegurança. Tenho que relaxar... que tal deixar-me de ameaças e vir para cá?

E as compras dos postais e recuerdos para o pessoal mais uma vez adiados. O trabalho rouba tudo! Chego ao centro já na hora de fechar e não vejo nada a fundo com olhos de ver nestes 3 dias. Mas o aperitivo já dá para ver o que isto afigura.

Mas será o melhor nesta velha Europa? O que haverá no outro Mundo e mesmo neste velho, que velha a pena. Se calhar pouco mais do que isto?

Pensamentos para outras folhas, no entanto... Se quisesse fazer conscientemente e obrigatoriamente um registo como este de certeza que não o faria. A determinação morreria sem esta espontaneidade que me mantém acordado. Amanhã dia de fuga para trás como mija a burra. Dois aviões num só dia para alguém que parece ganhou nova fobia. Tudo muito brusco amanhã.

A ver vamos.

Munique - Dia 2 - Quarta-feira 11/01/2006

Toque de alvorada às 7.20 locais. O rádio alarme berrava algo que em alemão se assemelhava a pimba da Bavaria. Algo quase folk e com letra “Ich liebe..:” qualquer coisa. Tony carreira lá do sítio mas com menos qualidade me parece.

Antes de adormecer, o BlitzkriegBop especial de Natal ( que por qualquer razão não estava completo no leitor) e o spotcast nº2 ouvido com mais atenção, fizeram-me companhia até cair para o lado. O que não custou muito porque o cansaço era grande. Mesmo assim, o sono não foi muito. Com demasiado calor acordava de x em x minutos. Os alemães não brincam quando lá fora estão -6 ou -7 C. Para a próxima noite vou dormir sem o edredão, que aliás é a unica peça de roupa de cama que é fornecida.

Agora tenho que ir tomar o pequeno-almoço, para depois fazer uma viagem de metro por 2 linhas até ao local de trabalho.

Uma coisa que reparei ontem à noite enquanto tentava adormecer, eram os anúncios às linhas eróticas. Estão massivamente mecanizados. Ainda pior do que os anúncios às SMS para toques de telemoveis em Portugal. E, enquanto que na pátria lusa as imagens menos próprias ( os mamilos e outras partes +- pudibundas) estão censuradas com uma estrelinha ou algo semelhante, aqui não! O engraçado nem é isso. O que mais me espanta é passarem aos 10 anuncios de cada vez, e muitas vezes o mesmo repetido 2 e 3 vezes seguidas ( perdão pelo pleonasmo).


Andando pelas ruas de Munique nem parecia que estava noutro país. Não sei se esta impressão que tenho se deve a estar aqui pelo trabalho e não pelo conhaque. No entanto, com o pimeiro dia de trabalho os receios a modos que voaram. Com o conhecimento certo as dúvidas foram poucas, embora continue a achar tudo secante e a sentir-me afastado das coisas que realmente quer fazer como pessoa “informática”.


Depois do trabalho, e de ter encarado os colegas alemães e de ter achado que são muito mais velhos do que a minha imagem mental tinha em conta, dei um saltinho a MarienPlatz, o centro do centro de Munique, que faz lembrar os filmes medievais. Se calhar porque aquilo tudo que envolve o centro da cidade provém dessa mesma altura.


Antes de um jantar bem regado a cerveja e bem puxado nos condimentos, houve tempo para dar uma olhada a um ringue de gelo onde se podia patinar, ali mesmo, no meio da rua. É engraçado ver aquilo que se pensa só ver nos filmes e televisão, a acontecer ali mesmo diante dos nossos olhos.

Amanhã tenho que ir ver de uns recados para o pessoal lá da Terra e ser de despacho os postais. O mais certo é chegar antes deles!


Agora quando comecei o parágrafo, estava a dar um programa estilo Jerry Springer mas em alemão. Mas tudo muito encenado propositadamente (mais do que habitual original), a atirar para herman José (esse também com costela germânica, Kripahl de seu nome) e antes uma desee uma Oprah masculina. Mas tudo muito encenado, muito a saber ao mesmo.


Ainda não arranho sequer o alemão, mas adoro adivinhar a língua por comparação e auto-didáctica. Uma tradução aproximada do inglês e alguma decomposição de palavras levam-me ao sitio e à palavra certa. Até mesmo quando os empregados teimam em não ceder em inglês e empurram-nos as palavras em alemão.


Já vos falei da imensidão do metro de Munique, que mesmo assim não deve ser dos maiores do Mundo? Já vos falei do facto de Munique ser plana e de se poder andar de bicicleta por todos o lado? Já vos disse que num dia bom, sem nuvens, vêem-se os Alpes a Sul? E a Itália já aqui ao lado (em baixo)? Acho que gostaria de passar aqui uns belos tempos a curtir algo de interessante, só preciso mesmo de entrar no espiríto da coisa. O problema é que ele só vem quando eu me for na Sexta...

Munique - Dia 1 - Terça-feira 10/01/2006

Nunca tinha andado de avião. Nunca tido saído de Portugal. Nunca tinha visto neve e gelo assim à solta nas ruas.

Voar não é nada de especial. O que me faz espécie é estar, assim, a pairar, quase no meio do nada, sujeito a quase tudo. Sem sítio para sair, sem alarme para puxar, sem travagem e paragem em caso de emergência. Sem uma porta a abrir em caso de exagerada turbulência. Mas sim, é bonito, ver tudo lá ao fundo, enquanto nos vamos dirigindo às nuvens, vendo o Mundo desaparecendo cá em baixo, e o chão a fugir a largo passo.

E depois, sempre numa boa companhia, entre as nuvens sobre os Piríneus, umas vozes portuguesas, dos atrasados do fim de ano, e do saudoso Blitzkrieg Bop, do natal do ano passado, que me trouxeram das nuvens embalado para o solo que hei-de sempre venerar quer seja germânico, gaulês, basco, castelhano e porque não o invicto lusitano.

Viagens inesperadas

Boas!

Ultimamente não têem havido mais viagens por este país a dentro, o lema bem conhecido deste blog. Assim sendo, e ocasionalmente e em jeito de comemoração por finalmente ter passado as fronteiras físicas do nosso cantinho, vou colocar as reflexões do dia-a-dia de uma viagem inesperada a Munique(Alemanha- Europa- Terra- Sistema Solar).

A viagem até que nem era para ser documentada, mas por um feliz acaso de ter levado umas folhas e uma caneta na bagagem de mão, e de a vontade de escrever ter-se oposto à inércia, aqui vão ficar descritas as reflexões de viagem em jeito de diário.

Que se proporcionem estas e outras oportunidades de viagem ao longo deste ano que ainda há pouco começou, foi o meu voto sincero de inicio de ano ( semelhante a uma new years resolution mas sem a determinação suficiente para tal) que tenho um sentimento visceral que se vai cumprir em grande medida.

Obrigado a vocês os poucos que comentam e que provavelmente são os únicos visitantes deste singelo site.

Bem hajam!

sábado, agosto 06, 2005

Braga-Viana

Empreendi uma aventura para alguns, que é desafiar o feudo das transportadoras rodoviárias, e lançar-me numa viagem de comboio de Braga a Viana do Castelo a um Domingo. Deu para sentir e palpar a verdadeira despojação da cidade. Sem gentes às 7 horas da manhã de um Domingo, parece (e é pela temperatura) muito mais fria e impessoal. A manhã está fria. O sol ainda não nasceu. Entro no comboio que agora faz o percurso inverso ao de quase uma semana. Saio em Nine. O caminho até lá é o tipíco minhoto, já fora da franja de Braga. Anotam-se homens a mondarem o seu socalco de terra, mesmo à beira da linha. Como o sol ainda teima em despontar totalmente, o frio ainda se sente, e a neblina morre nos vales. Só depois, devagarinho, no cume dos pequenos montes os raios lambem os cimos das árvores e os cimeiros das igrejas.

Paro em Nine, com um cheiro a campo e estrume característico, com montes de cultivo a fazer tudo verde. De soslaio, raspo de um corrimão o gelo que se formou durante a noite. Senti-lo a desfazer-se entre os dedos é revigorante, embora pouco ajude a colmatar o frio. Vem pessoas e veem as conversas com sotaque carregado e histórias do dia-a-dia. De pessoal na estação nem sinal. Só a voz gravada de antemão. O Internacional vem aí para me levar ... vou-me deixar ir.

A viagem é curta – menor do que a espera em Nine pela ligação – agradável e esguia. Passando por tudo o que é verdejante e viçoso, vinhedo e rio.

Chegados a Viana - um pouco de tempo depois do horário, visto pelo caminho de via única ser necessário fazer a espera pelas composições que vem em sentido inverso - convém visitar o que de lá por bom e mau se tem.

O elevador que nos levaria – e digo levaria por isso mesmo – ao cimo do Monte de Santa Luzia encontra-se segundo os guias desactivado para obras. Já lá vão 3 anos de abandono e nem sinal de obra. Só despojo e um cenário de horror funicular. Somos então compelidos a ir de escadas, táxi ou carro próprio. O escadório faz-se bem com paciência e descanso q.b. . O que é inverossimil é deixar um património e motivo de interesse, desfalecer assim sem o mínimo de cuidado. Que fique isto para pensar nas opurtunidades que temos para desenvolver, e perdidas como são não há queixa que o valha...

A paisagem do topo é bem abrangente o Sul, Este e Oeste da região de Viana: Montes e Vales, mais montanha e mar. Viana como um enclave de fronte para o Porto, porto de pesca a Norte e acolhedor de iguarias, legumes e ares campestres do interior Sul, Norte e Este. Uma confluência que é tipica deste tipo de cidade à beira-mar plantada, que beneficia ainda da foz de um rio navegável, que outrora, antes da escalada do asfalto serviria de estrada para o interior.

Viana tem o ponto máximo aqui em Santa Luzia, e subindo ao zimbório pode-se apreciar, embora num espaço apertadíssimo, toda a envolvente da cidade. Da cidade histórica em si, uma volta aos olhos pelo centro serve tanto do que uma visita guiada, uma vez que nos sitios mais centrais tudo se encontra identificado devido ao esforço camarário que ajuizadamente identifica os monumentos mais pitorescos com uma pequena sintese da sua história e conteúdo.

Sinal mais para o navio Gil Eanes, cuja história atribulada está contada na doca da cidade. Se não fosse o esforço externo a nave estaria agora a ser desfeita em milhares de bocados. A iniciativa conta com uma pousada e aproveitamento para alojamento de diversas instituições. Um exemplo de reabilitação a seguir, que, no entanto, deverá ser ainda mais cuidada.

Após uns grandes passeios pela urbe, passe-se pela praia do Norte, que, não obstante as pequenas ondas e areal, sempre ajuda a descomprimir. Outra vez, aconselha-se o passeio ao Deus dará pelas artérias da cidade. Trás mais benefícios do que se julga...

De volta, e autocarro tomado de volta à base é hora de passear por mais umas curvas e serranias pelo meio de terreolas, umas maiores, outras mais pequenas mas sempre com o seu encanto.

Braga espera-me para um último sono que nas próximas vezes terá que ser repartido por este Minho de tantas terras mas sempre verdinho.

Cumprimentos para todas as pessoas que conheci nesta viagem deambulatória pela região, especialmenta para este pessoal:

Flávia (Brasil)

Steven (Nova Zelândia)

Marta e Sebastien ( Polónia e França)

Wilson (Brasil)

Joaquin, Ruben & Eduardo (Espanha)

Michael (Alemanha)

Braga - Barcelos

Barcelos não tem nada de mais que possa ficar por ser visto. Talvez para quem seja um fã incontestável dos “recuerdos”, um galo de Barcelos, em versão mini-porta-chaves, ou para os mais emperdenidos, versão maxi-porcelana, venha mesmo a calhar.

Aqui, assim como nestas zonas límitrofes respira-se o fumeiro. O cheiro inconfundivel do enchido pendurado a fumar, penetra e entranha-se na alma, roupa, e narinas.

Há coisas que me tocaram e chamaram. Chamamentos bonitos como o belo enquadramento da Ponte sobre o Cávado e o rio em si que até lhe dá vontade de tocar.

Toquei na beira do Cávado... mesmo à beirinha perto da ponte, junto a uma azenha em recuperação. Ele nada me disse. Apenas frio, e se calhar incomodado com o esgoto (pelo cheiro e cor, de certeza não tratado) que desemboca na margem contrária em Barcelinhos. Ou isso, ou ficou incomodado com as 2 pedras que com o intuito de ricochetearem, logo se afundaram. Palerma do Rio! Talvez por se ter habituado a que ninguém o socorra quando lhe é devido, também a nós não responde. Cá se fazem cá se pagam!

Outros chamamentos, embora menos líquidos e mais ecléticos encontram-se no Museu de Olaria de Barcelos. Sempre com exposições variadas, temporárias e fixas, a “pagantes” e a não pagantes – sempre nos podemos aproveitar do estatuto e dar uso do empoeirado cartão de estudante, que só sai cá para fora em questões de identificação e descontos secundários e pagar uma quantia irrisória – surpreende quem visita e pensa que o barro apenas pode ser castanho e servir apenas para “recuerdos” mais ou menos foleiros.

Talvez o que me tenha mais apegado e chamado a atenção tenha sido o mercado que se realiza quase religiosamente todas as quintas-feiras e que ocupa toda a praça Central. É uma excelente oportunidade de sentir o pulsar do Minho e das suas pessoas. Ver e sentir os velhos, os novos, os seus falares – carregados amíude de palavrões capazes de fazer corar um Mouro, mas que não tirados dos seus contextos não chocam ninguém – e o suburbanismo nada stressado que inveja traz-nos a suburbanos da Capital.

De volta ás viagens, tempo de voltar à base estabelecida na Capital de Distrito.

Há rapazes que ajudam motoristas de autocarros. Quiçá um começar de vida onde nada mais há para além do que um livro pode valer.

Há a neblina a pairar nos vales, fazendo lembrar a nata que soubeja do leite, mal caiem os primeiros frios da noite. O Sol já nada quer com isto. Só a Lua ténue me acompanha, a mim e nós todos que voltados para Braga apinhados num autocarro nesta hora de ponta Minhota. Nos campanários das igrejas dos lugarejos brilham umas verdes cruzes. As casas aninham-se penduradas nos inúmeros montes que populam a região. Umas penduradas, outras nem tanto.. soltam uma névoa que se estaca após subir brownianamente uns poucos de metros. Se são de uma lareira estas névoas, que inunda uma qualquer sala de família, ou se por outro provém de um fumeiro, ao certo eu não sei. Sei é que contribuem para as grandes névoas que se formam nos vales, como numa casa de vício de jogadores inveterados.

A vida vai tão pacata mesmo ás portas da Urbe que até dá direito a empatar um pouco o trânsito na estrada nacional, à conversa com um amigo motorista, quem sabe se a por em dia o resultado do jogo de ontem do clube do coração.

A diferença da génese das grandes e das pretensas grandes cidades vê-se num facto que todos consideramos impessoal: a frieza das pesssoas. Aqui cada um conhece o outro no autocarro, na loja, onde quer que seja, seja numa Braga, numa Barcelos, e quiçá numa Guimarães...

Após uns estafantes 55 ou 60 minutos de viagem, espera-me de volta o pulsar citadino à séria, que aqui aparece e re-aparece vindo do nada...

O Sameiro à noite é fabuloso, não pela sua beleza arquitectónica, que a tem, nem pela sua imponência cimeira, mas pela vista magnifica que se tem do vale de Braga e das populações circundantes. É de suster a respiração e de parar o bater do coração com a majestade das luzes, pelo frio cortante e pelo silêncio que ajuda à meditação.. desde que não seja entrecortada por tilintar metálico.

Porto- Braga

À sombra de 4 dias, das árvores da Praça do Municipio, e de outras tantas peripécias e passeios novos, vem a imagem e luz da viagem de comboio. Moído de tão grande façanha de atravessar meio e mais um pouco de país de mochila ás costas e saco de viagem pendente na outra, lá me arrasto para a compra de bilhete. Nada demais, já que quem viu as máquinas suburbanas de Lisboa, viu todas as que populam por aí, neste rectângulo, uma vez que a Refer, está uniformizando tudo, lembrando os outros tempos, tempos esses em que as estações todas elas brancas e debruadas a azulejo, com o seu ar provinciano e rude, de casinha humilde de campo. Hoje, idade do aço e betão revestido a vidro, fazemos como nos tempos modernos: abraçamos, acolhemos e escondemos o antigo por debaixo do novo. Com sorte num tempo futuro um dia ainda consigamos resgatar de uma vala arqueológica aquele pequeno pedaço de azulejo do século XX.

Os comboios ditos suburbanos seriam iguais aos que asseguram o serviço até Sintra, pensava eu. Saiu o tiro pela culatra... já deveria estar premonido uma vez que já tinha avistado uma composição em Aveiro, cujo ar aparentemente frágil, “clean” e quase desarticulado de (quem olha para) um eléctrico dos novos de Lisboa, não inspira confiança. Pois é, estes novos suburbanos de aspecto moderno aerodinâmico e “eletricular”, fazem diariamente a vulgar “porrada” de quilómetros nesta área do Porto. Uma área metropolitana e suburbana extenssísima quando comparada com a de Lisboa. Os 55 e os 45 quilómetros que separam Porto de Braga e de Guimarães são muito mais do que a distância de Lisboa a Cascais ou a Sintra. Salvé a suburbana área de Lisboa as cidades de Vila Franca de Xira e Azambuja, por permitirem estas aumentar o figurão da Capital.

Gostaria de fundar o chamado suburbanismo extendido, que é o que se me apraz de dizer deste eixo Porto – Braga, mais principalmente desta linha. Ao sair do Porto, nota-se um emaranhado de linhas, sucatas, ferros velhos e tudo com um aspecto feio, sujo, lugrube e pós-industrial. Para quem o conhece o estilo não é nada demais. O que mais pode chocar é a transição abrupta do estilo para o rural. Assim, num abrir e fechar de olhos... esse tal suburbano extendido funciona como uma linha ténue , que une as duas cidades, a linha de carril apenas esse pedaço de ferro a ideia de urbe. Tudo o resto à volta mantêm-se estático e rural com deve de ser. O comboio assim moderno e eléctrico e confortável, destoa na paisagem quase virgem, tão virgem quanto a linha toda renovada, recém-inaugurada e a tresandar a moderno. O modernismo rompe pelos campos e vales verdes deste Minho interior e húmido, onde a esta hora da tarde quase noite, o Sol torna-se vermelho fogo, e irrompe pelas carruagens em bloco ligadas entre sí pelos foles, enquanto quase 3 dezenas de paragens cortam o embalar.

Estações tão urbanas quanto Águas Santas e Ermesinde lembram-nos o quão perto estamos do Porto, enquanto que outras com nomes mais estranhos como Travagem, tão pessoais quanto Leandro, tão pacóvios quanto Tadim – que numa piada estúpida e sem graça pode ser estendida para Tadi...nho – ou Aveleda, e tão senhoriais e feudais como Couto de Cambeses, remetem-nos para uma ruralidade acabrunhada. Com essa ruralidade nortenha, vem-me à cabeça o sotaque tão típico das pessoas nadas e vivas aqui – ou ás vezes apenas vivas uma vez que a acostumação não raras vezes faz com que a língua adopte a convenção da Terra – que por mais frenético e estiloso seja o seu dia-a-dia, é impossível não pensar logo logo na sua tacanhês provinciana. O estereotipo está lá, eu sei, e é estupido, mas é o lidar o embate e o que o primeiro contacto fazem despelotar. É deveras um preconceito que é desfeito com o passar do tempo.

Dos passageiros deste comboio não há muito que dizer. Estava à espera de uma hora de ponta metropolitana, mas vim ao engano. Se calhar, lá atrás, no Porto, e nos seus confins, as coisas sejam assim. Aqui não; aqui o único traço que se nota é o sono mal dormido de véspera que se acumula com o cansaço, dando origem ao adormecimento. Os rostos, alguns joviais, outros mais cansados, e outros ainda típicos do bebedolas lá so sítio – daqueles que paira de tasca em tasca sem remédio – que vigilantes mas não assim tão despertos, lá se vão dirigindo para a porta, quando a voz de Bingo anuncia a estação de Paragem, saída na bola sorteada. Saio na última. Pelo volume de gente que aqui sai, vejo que a auto-estrada é uma alternativa excelente, pelo menos para quem vive em Braga e pode ter carro próprio – aqui mais imprescendível do que na capital – a fazer a ligação em 1h 40m.

Chegado a Braga, estação nova, a impressão não difere da de uma grande cidade; muito movimento, muitos carros e autocarros, um bulício e uma pulsão muito própria que quase me levou a pensar que me teria enganado no destino. Braga tem uma vida própria embora muito parecida a Lisboa em movimento. Vêem-se pessoas correndo agitadas e comércio por todo o lado . Braga é peculiar porque tenta conciliar esta vida toda em dois espaços: o velho mais religioso e o novo mais profano e capitalista. Braga vive e lida com isto muito bem, sem atropelos. As pessoas mais novas vivem como se vivessem na capital, influenciadas pelo que é moderno, como em qualquer outra cidade grande que se preze. Ajudadas também pelos ventos estudantis Universitários que obrigam ao progresso. Mas Braga também mostra virtuosamente a sua parte velha, que não entra em conflito nem se sobrepõe ou é sobreposta com todo o resto. Tem o seu lugar. O centro, no centro. Damos de conta com preciosidades e maravilhas arquitectónicas. Por vezes, e não raras, ouvimos sinos a ecoar. O seu som propaga-se por todo o espaço. Só assim é que de vez enquando se nota que é uma cidade mas uma cidade mais campestre do que todas as outras.

É indelével, a marca que a paisagem circundante deixa na urbe. Estamos num vale rodeado de montes verdes. É normal que nos sintamos numa cidade peculiar no sentido rural, mais se a isso juntarmos o sotaque das gentes – não desjuntando novos dos velhos nem dos assim assim – e o seu facies que nos faz sentir estranhos. Estranhos naquele sitio. Nós não somos dalí. Não desta cidade a aspirar campo por todo o lado. É isso que a falta, a meu ver, para ser uma cidade completa. Libertar-se do campo de uma vez por todas. Mandar todo o campestre para as urtigas. Mas isso é impossível. Mas isso também é o que torna uma cidade destas singular. É por isso é que não é uma capital ... por mais condições, equipamentos, Internet, iniciativas – muito boas por sinal – Braga há-de sempre continuar a sê-lo. E bem! Terá pelo menos até ao fim dos mais velhos – que sempre existirão independentemente da época- que lembrarão como se fala como antigamente, como se fazem as coisas a preceito, ou a arte de bem cascar em quem nós manda.

E por mais familias modernas, e por mais construções – bem edificadas e planeadas – por mais iniciativas desportivas e culturais, Braga está ligada á sua religião e aos seus tempos imemoriais de fundação. Está tudo ligado ao campo também. Tudo se propaga na cara e nos genes dos Bracarenses de gema. Um traço campestre que durante algum tempo irá permanecer na sua vida, até que ninguém mais se lembre destes tempos. Por agora, há que viver esta vida aqui. Aproveitar estes tempos que trouxeram o variado progresso à cidade. Aconchegarem-se do frio, dar azo a uma vida cosmopolita. Mas, de quando em vez, lembrando o traço que os liga a este Minho rural. Quiçá dar um passeio pela história patente na cidade, ou deslizar por esses montes ou então bastar dirigir-se ao mercado ou a lojas agrícolas. Braga é o melhor do rural e do cosmopolita, fundido mas sem embate, que este Minho tem para mostrar.

As gentes... as gentes essas, tirando estas sub-urbanas estendidas que vivem ora uma realidade cosmopolita ora uma realidade, não digo mais rural, mas mais... simples, são do mais emblemático e que de pitoresco se pode ver. Ao fazer esta descrição sinto-me quase como um cientista, parcendo que olho as coisas por cima, desprezando quem observo. Não, as pessoas são mesmo assim: simples, directas e sem subterfúgios. Dizem o que pensam e não tem medo de o dizer. Não tem medo que pareça mal. O que está dito, dito está e mais nada. Vivem do que são e cagam para as aparências. Quem sabe se um dia não possamos todos fazer o mesmo e libertar a cabeça de coisas mais vãs!

Para conheer esta gente, mais velhos e mais novos, que ambos vivem as coisas de maneira diferente, há que fazer por isso, não ficar na cidade, ou, se ao ficar, percorrer as ruas mais antigas e as igrejas. São esses os sítios onde se pode sentir mais a alma e o pulsar destas gentes.

Senão, façam um passeio de autocarro que ligue algumas das cidades circundantes, sempre pelo meio de outras povoações.

De certo que aprendem e adivinham muito mais do que por aí sentados...

Lisboa - Braga

Narrar uma viagem, ou um tempo que se tira, faz lembrar os velhos costumes de escola primária em que o professor pergunta a cada menino e menina o que se fez no respectivo interregno e manda fazer as tão afamadas composições. Nos dias que por hoje passam, em que já volvidos estão cerca de 12 anos da minha 4ª classe, as coisas já são chamadas por outros nomes. Os petizes encontram-se no 4º ano, as composições viraram expressão escrita ou outros nomes porventura mais técnicos e impronunciaveis e o resultado é o mesmo ou pior. Não obstante este aparte, voltemos aos factos. Não é objectivo disto voltar aos bancos de escola, e eu voltar ao menino sabichão com algum vocabulário, mas sim ser uma opinião, uma visão de viagens, terras e sentidos através dos meus olhos, boca, pele, língua e nariz.

O que sinto e como isso me muda, motiva e constroí.

Uma vez com os cintos apertados vamos à descoberta de Braga e arredores...

Estou em Lisboa nos meados de Janeiro e nem o parece. Está o chamado sol de Inverno, aquele que brota no pico da estação fria e que dá aquela brandura ao corpo. Como um amante declarado da ferrovia, decido fazer a minha viagem de comboio, não obstante o transbordo na capital do Norte acrescido de mais uma hora extra de viagem... Mas se se é um fanático pelas máquinas e prazeres obtidos pelas mesmas que rolam sobre os carris, não há sacrifício que esmoreça o impulso frenético que nos é dado.

Da parte inicial da viagem nada demais a assinalar. Lisboa, com os seus orientais subúrbios que num repente nos desfilam pela janela grande da carruagem. Um Intercidades, 2ª classe, nada de grandes pressas ou luxos, que a viagem é para ser apreciada e sentida devagarinho, como quem sorve um charuto precioso, ou como quem degusta uma iguaria sem igual.

A linha do Norte assegura a ligação Lisboa-Porto ( ou Porto-Lisboa, para quem não gosta de se sentir regionalmente excluído) e até às franjas de Aveiro não tem, para mim, muita beleza que se assinale. Os pontos mais fulcrais e que podem, na minha experiência e mente viciada, suscitar momentos belos são as passagens beira Tejo e o troço antes da travessia do Mondego, antes de coimbra-B. A viagem também vive de pessoas. As poucas vivalmas que por aqui e em Caxarias se vêem, saindo do comboio, para irem às suas lides, são pessoas do campo e estudantes. Os estudantes é certo e sabido são dessa cidade estudante. Não é preciso fazer um grande esforço para saber que são os “campónios”. Mas isso não significa que por terem a sua tez do campo, e a sua cara característica de quem nasceu no meio em que nasceu, e que está habituado a prazeres simples, que seja mau e rude e insignificante. Apenas para mim significa que estão demasiado apegados aquela Terra, de tal maneira que ela se reflecte no seu rosto, nos seus hábitos e na maneira de sorrir e de ficar com o rubor característico nas rosáceas assim que a pinga sobe demasiado, ou que porventura o frio estale na cara.

Ao chegar a Aveiro começa-se a sentir os sinais de um grande progresso. Após quase uma hora de caminho sem vivalma, só campos desertos e paisagens acidentadas, sem muito para ver, sente-se o bulício da civilização. E com ele tudo o que de mau e bom isso acarreta. Sinal menos para Estarreja que faz lembrar uma outra Sines. O cheiro a ar pesado que asfixia e torna difícil a respiração. Um odor a enxofre que, se os mais antigos beatos o sentissem, decerto se persignariam receando que a alma lhes fugisse do corpo para as profundezas menos convidativas. Por sorte a paragem aqui é fugaz e a linha permite o embalo que nos leva dali para fora, nem que seja à custa de solavancos tão característicos e reconfortantes.

Avançamos agora para o litoral e quase se sente o seu chamamento salgado, não fossem as janelas estarem fechadas.

Aqui o progresso atinge o seu auge, mas também a sua decadência; bairros de barracas e outras barracas sociais antevêem a chegada a Espinho que é marcada pelo imponente e cúbico edifício do Casino, ali mesmo à mão de semear. Quase que dá a vontade de sair ali mesmo, à bruta, do comboio e ir derreter uns quantos punhados de moedas numa qualquer slot-machine do salão. Mas não, não façamos isso... estragaria o prazer da viagem que não falta pouco estará no seu fim. Mas não um fim desgraçado, trágico e com dinheiro e baba e ranho de sobra. Digamos que um fim apoteótico e extasiante.

À medida que nos aproximamos da antiga Portucalis, mesmo juntinho ao mar e às areias e dunas que com ele confinam na parte Norte de Espinho, avizinha-se ao longe a foz do Douro, numa visão magnífica. São agora quatro e um quarto de uma tarde de meados de Inverno e imaginem um sol que, apesar de fraco, não se dá por vencido, ilumina com a sua luz ténue, ainda amarelada torrada – quase vermelho alaranjado – ao nosso lado esquerdo, enquanto a locomotiva vai comendo de um trago a linha, travessas, cavilhas, brita e tudo mais que lhe vai aparecendo por debaixo dos rodados, alimentos que as carruagens, desprovidas de força vital que as faz andar, agradecem vivamente. A locomotiva, lampeira, também o sabe e, de tempos a tempos, lá solta um silvo ou outro, cada um de seu tom, agudo e grave, grave e agudo quase desfalecidos, ressoando, ecoando, ribombando para trás e para a frente, avisando quem atrás de si vai, que tudo corre bem, e dando sinal a quem na frente vier que vai na galga. A paisagem não podia ser mais animada; o mar no lado esquerdo, rebentando na areia conforme se lhe apraz e a areia, os minusculos grãos que se amontoando, tonelada atrás de tonelada, formam uma linha de costa que se curva. Uma inflexão para o lado esquerdo, até abraçar as àguas do Douro, e a luz que em ambos lhes dá.

Fugidos do encontro das areias e águas, a linha de ferro escapa-se para a direita, mete-se para o interior como um bicho, para só nos fazer mostrar o Douro lá mais à frente. Mas antes, antes até da paragem nas Devesas (Gaia), mais um triste sinal nos aparece. A paisagem urbano-decadente-pós-industrial que tão bem caracterizava a zona Oriental de Lisboa pré-Expo, aqui se repete. Amálgamas de ferro, portas, carros, folhas de ferro ferrugento, caído, abandonado ao Deus-dará.

Sempre que um lisboeta de gema – como eu, embora a gema esteja mais suburbana, o que se reflecte na liquidez da mesma – ouve falar do Porto e suas pontes, e do Porto e suas ruas, ou do Porto e sua frieza monumental, pensa sempre que o Porto não tem nada de especial que o valha. Para quê então trocar a nossa fadista e marialva Lisboa, com o seu Sol e trinado e ruas calorosas, por uma cidade que pelos ditos do povo mais parece um naco frio de comida? E eu vos digo: Entrem na cidade de comboio vindos de Gaia, e logo vêem o esplendor que vos espera.

Á partida das Devesas, vão sentir-se emproados com a visão da velhinha Ponte D. Maria. De tal maneira que vão desejar mais que tudo, atravessá-la. Mas preparem-se para a desfeita. A ponte foi desactivada, pelo que passam por outra mesmo ao lado, novinha me folha, que cumpre a função de vos levar para a outra margem. E que travessia... quem nunca ouviu Rui Veloso falando do Porto numa canção sua? Como lisboeta presunçoso nunca levei muito a sério a letra e os sentimentos aí evocados. No entanto, a experiência que tive fez-me mostrar que tenho que ser menos presunçoso. A sensação da travessia é magnânime, embora dure pouco. O nosso monstro de metal brilhante atravessa a ponte em poucos segundos – para inveja dos automobilistas suburbanos lisboetas – e que segundos!

Lá em baixo um «enorme casario que se estende até ao mar», plantado e quase que sem raízes flutuando nas encostas escarpadas, até me interrogo como ele se mantém ainda assim, lá preso. Para o lado da foz o centro do Porto e outras pontes que unem as margens. Ainda do lado de Gaia da margem, avistam-se umas torres graníticas cimeiras, os inconfundíveis Clérigos, e mais outros que por falta de informação cultural geográfica Portuense não vos sei precisar.

Enfim, a experiência e choque da travessia foi para mim, um ignorante da “magia” Portuense, um bálsamo. Acabada a travessia do pouco largo Douro, a paragem e destino final deste comboio em Campanhã. Aqui o vosso caro tem outro comboio para tomar, e o outro poiso bracarense para continuar a escrita. O café onde estou está muito bom e inspirador. Impõe-se agora outro poleiro de escrita. O frio aperta.

Viajado a 24 Janeiro de 2005

terça-feira, março 01, 2005

Viagens na cidade: Sobe & Desce

Hoje tirei a tarde para mim. Fui visitar os elevadores da Capital. Até parece mal a um lisboeta de gema, nunca ter tido o interesse de dar uma vista de olhos a estes pequenos grandes escaladores de colinas.

Para um claustrofóbico de primeira como eu a coisa deveria parecer feia no Elevador de Santa Justa. Mas com um pouco de coragem - porque um homem não tem medo!!! - e com uma vontade grande de ver a vista lá de cima, e sendo virgem na viagem lá fui. O trajecto é sempre a subir e em menos de 20 segundos já lá estamos em cima. Rodeado de estrangeiros e os seus dialectos que, no meio de tanta opinião, espanto e comentário, parecia uma autentica Torre de Babel o Edifício. Com um suave esticão de paragem, e tendo cuidado com o degrau na saída, toca de ir para cima, na escada de caracol. No piso intermédio podem-se apreciar através do vidro, os dois potentes motores eléctricos - que, já agora, atingem no seu auge as 550 rotações por minuto - de fabrico inglês que permitem que as cabine mais os seus 20 passageiros (no máximo na subida) ascendam ao topo.

Da vista a assinalar temos que assinalar a visão límpida do Tejo, e o aproveitar para ver de relance os novos barcos da Transtejo e da Soflusa que deixam que a espuma de rasto dos motores se cruze entre sí .

Quem quiser pode ainda demorar o tempo pousando a vista nos diversos miradouros que existem nas colinas que ladeiam a Baixa Pombalina. Para o lado do Castelo, o miradouro do Castelo de S. Jorge e o da Graça. Para o lado do passadiço o Miradouro de São Pedro de Alcântara.

Dando começo à descida, desta vez com menos pessoas, e após a chegada, deparo com uma breve história do Elevador, que ao contrário do que lhe chamam, não é de Santa Justa mas sim do Carmo. Pelo andar das obras deve estar para breve a reabertura do passadiço à circulação, facilitando assim o acesso à parte mais alta do Chiado.


Neste percurso pelos ascensores, está na hora de um passeio pedonal, afastado das vias principais. Na saída do elevador, vira-se à esquerda e 3 ruas à frente á direita, para dar de caras com o Tribunal da Boa-Hora. Seguindo para a Praça do Município e rua do Arsenal onde se podem apreciar tascos e tascas bem castiças mas também finas mercearias de bacalhau e afins com todos.

Na próxima abertura de rua, hora de virar à direita por uma nesga paralela à rua do Arsenal, e é tempo de passar por debaixo do arco que sobe para o Bairro Alto. Esta zona é bastante conhecida pelos seu bares com actividades menos próprias, por dar casa a grandes cadelas e curtes de bebedeiras, mas também por alojar das melhores tascas onde se come do mais apurado e barato em Lisboa. Só de cheirar uns bifinhos de cebolada a sair da porta do estabelecimento, a boca quase que sente o seu sabor na língua.

Seguindo um pouco mais à frente, e do nosso lado direito encontra-se o elevador da Bica, aninhado na sua casinha. Dos de Lisboa é este o mais pequeno mas também mais inclinado. Enquanto se espera pela partida, é tempo de escolher qual das divisões se pretende ocupar, distinguindo entre ir de pé ou sentado de costas. O elevador da Bica é dos mais castiços que pode haver. Com o seu aspecto frágil, percorre a divisão equidistante do bairro da Bica. E o melhor de tudo é que qualquer um o pode abandonar a meio do percurso. Imagino um meio de transporte do futuro onde qualquer um pode eclipsar-se por artes mágicas ou pensativas quando a casa está próximo. Se calhar os elevadores são uma alternativa de futuro e nem demos por isso...


Chegados ao Calhariz, deparamo-nos com uma protecção ad-hoc para ninguém cair no buraco de alçapão do elevador. Umas barras de ferro são o suficiente para o mais incauto não desaparecer pelo chão. O alçapão pelo qual o guarda-freio desapareceu aloja a casa das máquinas que se encarrega de dar tracção às duas cabines. Da maquineta apenas se vêem 2 roldanas gigantes que ajudam a tragar porções de cabo para cima e para baixo.

Se seguirmos para a direita - e isto pode ser feito de inúmeras maneiras entre as quais de eléctrico - chegamos ao Largo de Camões onde subimos de novo, através do Bairro Alto ( rua das Gáveas) para uma descida pelo elevador da Glória. Se na passagem fugaz pelo Bairro ouvirem uma banda qualquer de reggae ou de qualquer outro estilo alternativo à corrente, não se espantem. É a vida do Bairro a jorrar a cada esquina.


O elevador da Glória é dos menos pitorescos para a vista, mas é aquele que permite encontrar mais gente, especialmente no percurso de subida. Para baixo já se sabe que todos os santos ajudam! O momento de partida é dado pela cabine que se encontra lá em baixo nos Restauradores, e é assinalada por um tremelicar de luzes. O guarda-freio dirige-se competente para o seu posto é começa a marcha do amarelo. Menos de 1 minuto estão a cruzar-se as cabines e pouco tempo depois chega-se ao abrigo da paragem, paredes meias com uma sex shop.


E no coração de Lisboa, na Avenida da Liberdade, é ir andando para a última partida da tarde: o elevador do Lavra. Com partida no Largo da Anunciada, este funicular é em tudo semelhante ao da Glória. Mesma disposição de bancos, mesa cor e mesmo tipo de carroçaria. O percurso parece é deveras mais inclinado, e o cume é mais abrigado. Tão abrigado que quase parece uma estação terminal de teleférico. Pelo meio, e ainda à espera que a hora de dar o sinal para o topo chegasse, houve tempo para servir de voyeur de conversas de bairro. O habitual corte e casaca, não neste e naquela mas sim no preço das coisas, e da tecnologia que senão mata , esfola. Ora se perde mais tempo porque nada está tecnológico e "competurizado", ora é tudo demasiado para a nossa cabeça, e já está demasiado avançado demais. O português nunca está contente. Ora aquece ora arrefece.

No topo uma surpresa que não está aos olhos de todos. Um jardim em plena colina. Para o descobrir é só sair do elevador para a esquerda e seguir a placa. Lá encontra-se uma paisagem para o vale da Baixa, estando o espectador rodeado de arvores gigantes e de lagos sem água. Se calhar o preço de uma remodelação que parece que está a sofrer o sítio, ou então resultado de uma politica de contenção mais extremista. Certo é que tem uma paisagem bonita e estratificada.

Se sairmos pela porta de baixo do jardim, vamos dar com uma calçada assaz íngreme que sobe para o Campo Mártires da Pátria, que acolhe a Faculdade de Medicina da Universidade Nova de Lisboa. O Largo recentemente recuperado, alberga um monumento ao Dr. Sousa Martins, alvo de uma devoção fervorosa. Nas proximidades podemos encontrar tudo e mais alguma coisa relacionado com Medicina, desde o Instituto Camâra Pestana, até aos 3 hospitais mais históricos de Lisboa: S. José, Desterro e Capuchos, tudo dimensionado num pequeno centro circuito de casas antigas.

Se apanharmos um autocarro na rua que corta o Campo damos connosco no centro de Lisboa. A zona de Picoas e o Eixo do Marquês do Pombal. Aqui houve tempo para visitar uma das mais recentes coqueluches de compras abastadas da capital, o reconvertido Palácio de SottoMayor, bem no centro da cidade, na avenida Fontes Pereira de Melo perto do Teatro Villaret. O espaço apenas peca por pouco frequentado - será isso um pecado na correria das compras do dia-a-dia? - talvez pela hora a que foi visitado, mas capta bem a essência - pelo menos nos pisos 4 e 5 recuperados do antigo palácio - do que terá sido aquela casa. O amplo jardim onde anteriormente crescia erva e mato do grosso, deu agora origem a cimento e a uma entrada para o espaço de compras inferior. O que cativa mesmo é o sossego e a maneira original como foram dispostas as lojas dentro do edifício original.


Acaba então o circuito dos elevadores, num elevador panorâmico do centro, que nada tem a haver com aqueles outros amarelos e outros em torres de ferro trabalhadas por discípulos aplicados.

quinta-feira, fevereiro 24, 2005

Velhas viagens, Velhas fotos: Évora!

Saudações!
Esta é daquelas viagens que desencantei da arca. Ainda preparando o relato de Braga, fui recordar-me das fotos que tirei nesta bela deslocação.

Em finais de Julho de 2004 aqui o vosso caro fez uma mini-excursão à mui bela cidade de Évora, que já desde Abril 2003 me tinha prendido pelo beiço numa ida ao cenpl2003 . Desde aí, a cidade aguardava uma visita minha mais atenta, e com um passo e olhos de ver tipicamente alentejanos.

A cidade cativa pela diversidade de monumentos e também pela facilidade com que se pode mover nela. Em 10 minutos, e com uma grande capacidade pulmonar, consegue-se atravessar o centro histórico e olhar de relance para um bocadinho de tudo. Além do mais sabe bem perder-se pelos bairros antigos (Mouraria e Judiaria), com as suas casas alvas, e andar aos desencontros com os pontos de fuga, até encontrar fontes que saciem a sede - bem alta dada a temperatura do ar no pico do Verão - ou então uns belos doces regionais que confortem a barriga.
Tive ainda tempo de ver um filme p/b ao ar livre na Praça do Sertório, e assistir a um concerto da banda Filarmónica de Reguengos de Monsaraz na delegação do INATEL local.
No final, não se esqueçam de trazer bolinhos tradicionais ( aka Pão de Rala, queijadinhas e quejandos). Podem fazê-lo na Rua do Cicioso perto do quartel e do Hospital Distrital.

Aqui o vosso caro vai voltar lá em Março para uma caminhada de 10 Km perto da cidade. Se me quiserem acompanhar vejam mais informação aqui.

Aqui ficam algumas fotos como aperitivo!


Pormenor das arcadas dos Paços do Concelho, à Praça do Sertório


Foto pseudo-artística de um corrimão numa escadaria no largo da gelataria Zoka.
Tem uns gelados fantásticos, bons para serem saboreados numa noite amena de Verão.


Claustro central da Universidade de Évora.
Com um espaço assim tão bonito e ancestral até dá vontade de lá ter aulas.
O pessoal da UE nem tem muito que se queixar...


Isto é o que dá a um turista incauto andar com a máquina pronta a disparar. (Fora de piadas sexuais!).
Já agora as manchas que se vêem pertencem ás pedras do terraço da Sé de Évora.


Lembram-se do "Onde está o Wally?"? Tentem encontrar o Templo de Diana.


A minha perdição... comboios!!!
Esta aqui é uma velhinha Nohab que assegura a ligação no ramal Évora<->Casa Branca.
Esta aqui tinha chegado um pouco depois da hora, vinda de Casa Branca.


Estação de Évora vista da linha.
No horizonte direcção Casa Branca.
Para trás da minha posição ligações infelizmente já encerradas para Estremoz e Vila Viçosa, entre outras já abandonadas.

quinta-feira, fevereiro 17, 2005

Próximas viagens: Minho - circuito urbano

Até revisão dos textos publicados na semana em que foram visitadas as cidades de Braga, Barcelos, Guimarães e Viana do Castelo, aqui ficam umas visões de viagem.

Espero que gostem ;)


No topo do Sameiro num dia solarengo.


Enquadramento do Cávado


Até que eu vença a inércia...

Cheers!

segunda-feira, fevereiro 14, 2005

Velhas viagens: Tejo

Há montes de tempo que não andava de barco.

Agora está tudo diferente... aqueles velhinhos mas patuscos barcos da CP deram lugar a catamarãs de ponta da moderna Soflusa. Apaixonam-me assim estas viagens, mais até do que nestes barcos modernos... mas é a marca do progresso. Ás vezes acho-me revivalista mas não saudosista. Aquele pequeno das coisas antigas, de apreciar algo batido pelos tempos e que provavelmente adquiriu esse fascínio acumulado ao longo da vida. Mas também aqueles velhinhos barcos azuis embalados docemente pelo Tejo, trazem outras memórias que hoje tento avivar. Os fins de semana recheados de mimos dos Tios emprestados, aqueles milhentos episódios do He-Man e dos Caça Fantasmas já carcomidos no VHS. O reviver dos filmes do Super Homem e das velhas glórias benfiquistas festejando as bolas na rede. Enfim... tempos que foram.

Agora estou no convés superior com um rio verde como fundo, abalado levemente pelas ondas, esperando a ordem de partida que parece adiada a cada baloiçar. É assim andar de barco neste Tejo, com aquele cheiro a maresia que me desperta os sentidos. Eis o que tu andas perdendo e tens que experimentar... exceptuando a música “lame”-brejeira que caracteriza os nossos lugares comuns.

A sirene soa...

Vamos partir!

terça-feira, janeiro 25, 2005

Intuito

Com este blog pretendo mostrar e contar as minhas viagens por esse país a dentro, as vezes tão mal conhecido e muito criticado. As vezes para poder ir lá para fora é necessário saber o que temos cá dentro.

Fiquem sintonizados!

Cheers!